Fonte: Coluna do doutor Claudio L Lottenberg na Veja
Há 36 anos realizo transplantes de córnea. Um orgulho da minha trajetória profissional foi ter criado um dos primeiros bancos córneos do Brasil. Por isso, recebi com preocupação o levantamento produzido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e divulgado no início deste mês, dando conta de que o número de pacientes na fila de espera por um transplante de córnea praticamente triplicou nos últimos dez anos: de 10.7 mil pessoas, em 2014, saltamos para 28,9 mil, em 2024. Hoje, a média de espera para a realização desse transplante é de 194 dias, pouco mais de seis meses.
Os números que me deixaram apreensivo têm muito a ver com a pandemia de covid-19, quando os hospitais suspenderam ou diminuíram drasticamente os procedimentos eletivos, provocando o inchaço da fila de espera. Com efeito, o aumento expressivo foi registrado entre 2019 e 2020, quando o crescimento da fila chegou a 30%. Mas o fenômeno tem relação com a baixa conscientização do público sobre importância da doação de órgãos e passa também por uma melhora geral na gestão do ecossistema de transplantes.
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão do Ministério a Saúde, por meio da Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT), é quem monitora a lista dos pacientes à espera de um transplante. A lista é única por Estado e respeita a ordem de inscrição, mas casos urgentes ou graves têm prioridade. Além disso, a CGSNT faz o controle do processo de captação e distribuição de órgãos, tecidos e células-tronco hematopoéticas para fins terapêuticos.
A doação de córnea só possível após o falecimento e precisa ser autorizada pela família do doador. A captação deve ocorrer entre seis e 12 horas após a parada do coração. A técnica cirúrgica para a sua retirada não deixa vestígios nem altera a aparência.
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